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Sejamos como as garças!!!



Há alguns (muitos) anos atrás o querido pastor emérito da igreja na qual congrego, em um de seus sermões, comparou o caminhar do cristão no mundo com as garças que caminhavam no manguezal em Aracaju. Quando passei a trabalhar em uma piscicultura, esses animais se tornaram parte do meu cotidiano e aquele exemplo se tornou bem vívido para mim. Devo admitir que as garças não são uma espécie bem vinda em uma piscicultura, mas são animais muito belos, esguios e donos de uma plumagem sempre branca*. A lembrança de uma pregação antiga levou-me a observar melhor essas criaturas.

Você já tentou entrar em um manguezal ou em um viveiro recém-esvaziado e andar por ele sem se sujar? Pode ser uma tarefa quase impossível entrar em um lugar desses e não sair com pelo menos metade do corpo sujo. Contudo, as garças o fazem de forma graciosa, sem manchar uma pluma sequer. Para aqueles que ficam aterrorizados (algo descabido) pela disciplina de Biologia, eu digo que não se preocupem. A intenção não é fazer comparação de anatomia, morfologia e fisiologia entre humanos e pássaros, nem como andar em um ambiente lamacento sem se sujar, mas fazer um paralelo desses animais com o caminhar do cristão vivendo em um mundo caído sem se contaminar com ele.

1 – As garças são vigilantes Nas oportunidades que tenho observado esses animais, percebi que as garças são animais sempre vigilantes. Vigiar é estar alerta. É ser precavido. John Owen dizia que é necessário ponderar sobre todas as possibilidades de como o inimigo das nossas almas pode se valer para nos vencer pela tentação. O mundo e o diabo lançam mão de todo tipo de artimanhas para despertar a cobiça do coração humano que conduz à prática pecaminosa. Você estudante, tenha cuidado com o seu tempo. Priorize seus estudos ao entretenimento, para quando a prova vier, não seja tentado a enganar o professor, ou furtar o conhecimento do outro. Em alguns empregos onde existe um ambiente competitivo muito forte, a disposição de se fazer tudo para conseguir aquela promoção, pode, na realidade, ser o caminho largo que conduz ao afastamento de Deus e à ruína. Desconfie da “liberdade” apregoada pelo mundo e seus agentes, de que só há diversão na embriaguez, satisfação no sexo sem compromisso e autoafirmação na confrontação da autoridade dos pais. Esses são exemplos da cosmovisão de um mundo caído. Vivemos em uma sociedade cujos padrões morais estabelecidos por Deus têm sido diuturnamente relativizados nas escolas e universidades, zombados no trabalho e atacados na televisão. Devemos estar atentos a todas investidas do maligno e às formas de sedução deste sistema perverso. Isso significará uma vigilância consistente e diligente das nossas almas, valendo-nos, para tanto, de todos os meios que Deus tem colocado a nosso dispor para essa finalidade. Como as garças, sejamos vigilantes!

2 – As garças deixam marcas Ao final do dia, em um viveiro esvaziado, percebe-se que há marcas, há pegadas na lama. Para os olhos treinados, sabe-se qual o tipo de animal que passou ali. Assim como as garças, o cristão também deve deixar sua marca, ou melhor, a marca de Cristo. Ryle dizia que se almejamos o reconhecimento de sermos pertencentes a Cristo, como povo de Deus, não podemos passar a vida indolentes, pensando e vivendo como fazem as demais pessoas deste mundo. É preciso que haja nítida diferença de hábitos e preferências, bem como uma mentalidade diferente entre nós e aqueles que pensam conforme o mundo. Em seu comentário sobre Mt 5.13, D. Martyn Lloyd-Jones escreve que o indivíduo verdadeiramente santificado irradia certa influência pessoal; essa influência permeia e penetra em qualquer grupo de pessoas entre as quais tal pessoa por ventura esteja. Em qualquer ofício o crente autêntico, cuja vida tenha sido salva e ele esteja sendo transformado e exercitando os frutos do Espírito Santo, afeta todas as pessoas ao seu redor. Ainda que a conduta dos incrédulos seja pela zombaria e escárnio pelas coisas de Deus, a nossa conduta neste mundo é a de influenciá-lo e jamais ficarmos isolados dele por vergonha ou medo. Devemos ser marcantes como o sal e visíveis como a luz. Não somos chamados para sermos apenas ouvintes da Palavra, mas operosos praticantes. O sal que não cumpre sua função para nada presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens (Mt 5.13). Da mesma forma, não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus (Mt 5.15-16). Seja diferente, agindo diferente para que não somente os crentes, mas também os incrédulos glorifiquem Deus. Lembre-se das garças: quando andam no manguezal ou no lodo, deixam suas marcas!

3 – As garças estão no manguezal, mas não são de lá Todos os dias, voltando para casa ao fim de um dia de trabalho com os últimos raios de luz do sol, contemplo no trajeto vários bandos de garças voando para seu local de descanso. Elas não permanecem no lamaçal porque o lugar onde elas repousam não é lá. Do mesmo jeito, embora o crente estude, trabalhe e se relacione no mundo ele não pode perder de vista que é um forasteiro, um peregrino. Muitas vezes, nossas mentes estão tão atarefadas e nossos afazeres tão imersos com as coisas desse mundo que perdemos de vista para onde estamos indo. É lícito especializar-se academicamente, como também é salutar ambicionar crescimento em uma profissão, porém não podemos depositar nossas expectativas e esperanças nessas coisas. Tudo o que fizermos, devemos sempre fazer para a glória de Deus, mas vigiando o coração para não nos apegarmos às coisas desse mundo. Os crentes sempre devem estar lembrados de que esta cena terrena é transitória e sua morada celestial permanente. O descanso eterno não se dará neste mundo que conhecemos. No momento, temos apenas vislumbres desse descanso. Só o gozaremos em sua plenitude, quando estivermos na presença de Deus. Nessa esperança, o apóstolo Pedro afirma: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pe 3.13).

Observemos bem como as garças caminham graciosamente na lama sem se sujarem. As dificuldades são grandes e os desafios constantes, mas não desanimemos diante deste mundo! Busquemos a sabedoria divina para estarmos sempre alertas e, como as garças, vigilantes! Valendo-nos de todos os meios de graça que o Senhor nos tem concedido, estejamos atentos ao que tenazmente nos assedia, quer sejam provenientes do nosso próprio coração, quer das vãs sutilezas do maligno, ou da sedução desse sistema iníquo. Andemos com firmeza, deixando a nossa marca, agindo como sal e luz, preservando e guiando, confiados não nos nossos próprios méritos, mas na obra redentora de Jesus Cristo e na obra santificadora do Espírito Santo de Deus. Jamais esquecendo que somos peregrinos neste mundo, vivamos na esperança da morada eterna, nos céus, onde desfrutaremos da presença do Senhor e o glorificaremos para todo sempre.

Como a garça com sua plumagem sempre branca, lembremos o que nos ensina Salomão: "Em todo tempo sejam sempre alvas as tuas vestes". (Ec 9.8a)

* Embora a maioria das garças tenham as penas brancas nem todas as espécies apresentam essa característica.


José Reginaldo Dias Júnior

Formado em Biologia

Professor da classe de jovens da IPA

Membro da Igreja Presbiteriana de Aracaju


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