QUANDO NOSSOS CORAÇÕES RETROCEDEM PARA A AUTOCONFIANÇA
Ser salvo pela graça talvez seja fácil de aceitar quando somos recém-convertidos. Nesses momentos iniciais que Deus abre nossos olhos para o evangelho, nós normalmente estamos dolorosamente quebrantados, com diferentes níveis de vergonha e arrependimento sobre o nosso passado. Porém, quanto mais tempo na “vida cristã”, mais nós podemos lentamente e sutilmente começarmos a nos sentir menos dependentes de Deus. A autoconfiança pode se instalar dentro de nós, corrompendo a consciência da nossa própria corrupção e despertando a confiança em nossa própria energia e esforço.
Não muito tempo depois de abraçar a graça de Deus no evangelho, alguns cristãos na Galácia começaram novamente a adquirir confiança neles mesmos e nos seus próprios esforços. Falsos mestres adentraram e estavam impondo leis antigas sob estes novos convertidos, espalhando venenos teológicos nas preciosas sementes plantadas por Pedro.
Qual foi a mensagem enganosa deles? Que em acréscimo a fé na obra de Cristo, esses gentios precisavam ser circuncidados e adicionar a observância às leis do antigo testamento (Gálatas 4:10; 6:12). Fé em Jesus não era de fato suficiente.
Agora, nós poderíamos pensar que uma pessoa que provou da verdadeira salvação pela graça do evangelho, iria prontamente rebater esta argumentação em segundos. Mas os gálatas obviamente não o fizeram. Por quê? Porque mesmo os falsos mestres estando errados, a mensagem deles encontrava uma inclinação pecaminosa dentro do coração do ser humano: todos nós secretamente amamos um evangelho que depende de nós mesmos. Nós amamos ser o herói, ou pelo menos sermos um ajudante célebre. Autoconfiança alimenta a nossa autoestima e a autovalorização.
Mas a autoconfiança nunca oferece uma refeição verdadeira, e eventualmente pode nos matar (espiritualmente). A primeira mordida tem um sabor rico e que satisfaz, mas nós apenas conseguimos uma mordida. E enquanto nós somos pegos catando migalhas, o buffet da graça fica de repente longe do nosso alcance. Nosso impulso para terminar aquilo que Cristo começou com nossas próprias forças, precisa ser exposto e negado.
Para aqueles que batalham contra o orgulho, ou são propensos a confiar em si mesmos, aqui estão 04 formas de lembrar de descansar nossas almas decisivamente no trabalho de Deus e não no nosso próprio.
1. Jesus precisou morrer horrivelmente porque nós pecamos horrivelmente.
“Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado.” (Gálatas 3:1)
Como nós podemos olhar para a cruz - aqueles pregos cruéis, feridas abertas e o próprio Deus ali com falta de ar – e ainda acreditar que nós conseguimos ser (nos manter) justos perante Deus por nós mesmos? Se aquilo é o que nós merecemos por sermos pecadores, nós somos muito piores do que poderíamos entender. E nenhum de nós poderia suportar o que Jesus suportou por nós – não apenas a dor física na cruz, mas o infinito, fervente vulcão da justa ira de Deus destinada a nós.
A natureza do sacrifício de Cristo reprova qualquer ideia de nossas próprias obras de justiça e santificação. Como poderíamos entender a ideia da crucificação de Cristo – sua injusta execução, o peso do fardo que Ele carregava, a gravidade e seriedade do pecado, a enorme ira de Deus – e ainda nos agarrar a qualquer esperança de autojustificação, ou auto santificação?
2. Nós formos convertidos pela fé, não por obras.
Deixe eu te perguntar somente isto: você recebeu o Espírito de Deus por ter feito o que a lei manda, ou por ter ouvido a mensagem do evangelho e ter crido nela? (Gálatas 3:2)
Jesus morreu por seus pecados, mas como você se tornou um cristão? Aqueles primeiros momentos com Cristo não foram uma resposta de Deus a alguma coisa que você fez. Eles foram uma resposta a algo que Deus fez. O Espírito Santo faz abrigo em seu coração, e leva você a desistir do seu esforço de ser bom o bastante e no lugar disto, o leva a acreditar em Jesus. Você escutou, acreditou, e foi salvo – nenhuma tarefa foi creditada a você.
Você experimentou a sua própria conversão, sem as obras das suas mãos: “Essa esperança não nos deixa decepcionados, pois Deus derramou o seu amor no nosso coração, por meio do Espírito Santo, que Ele nos deu.” (Romanos 5:5). Você assistiu outros acreditarem e crescerem nos frutos do espírito pela fé. Por que você iria começar a adicionar suas próprias obras nesta equação agora? Nossas boas obras servem como evidência que nós nascemos de novo (Thiago 2:17), mas elas não são a garantia de um novo nascimento. Deus é a garantia da nossa nova e eterna vida, pelo poder do Espírito Santo (Efésios 1:13-14).
3. O Espírito nos carrega dos nossos primeiros passos na fé, até o nosso último suspiro.
Tendo começado pelo Espírito, vocês agora estão sendo aperfeiçoados pela carne? (Gálatas 3:3).
Como você contabiliza seu crescimento pessoal? Se você é uma pessoa mais paciente, de onde essa paciência veio? Se você tem mais auto controle, de onde você achou a força para esperar, ou dizer não? Se você tem mais alegria em Cristo hoje, o que fez você mais feliz? Qualquer um com bastante consciência sabe que nós participamos do progresso, “mas Deus quem a faz crescer” (1 Coríntios 3:6).
Deus dá o crescimento através da mesma graça e pelo mesmo Espírito – o mesmo evangelho – pelo qual Ele nos salvou. Tim Keller escreve: “O Espírito não trabalha (nunca trabalhou) separado do evangelho... Ele é o canal e a forma pelo qual o espírito utiliza...(Paulo) diz que a maneira que o Espírito entra na sua vida, deve ser exatamente a mesma maneira que ele progride nela (Livro “Galatians for you”, pg 60).
Nós somos tentados a começar a confiar em nós mesmos, novamente, porque pensamos que nos aceitar é responsabilidade de Deus no projeto da redenção, enquanto a obediência é a nossa responsabilidade. Nós tentamos retomar de onde Deus nos deixou, mas Deus nunca nos deixou. Qualquer coisa verdadeiramente boa ou agradável sobre nós é uma evidência que Ele tem feito algo. “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”(Filipenses 2:13).
4. Nossos sacrifícios e sofrimentos por Jesus não foram em vão.
Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão (Gálatas 3:4).
Nós talvez lutemos para aceitarmos este ponto. Os gálatas tiveram algo a perder quando passaram a seguir a Cristo. Ser Cristão não era culturalmente popular ou aceitável onde eles viviam, e certamente não era a visão de mundo dominante. Eles perderam amigos e conforto e provavelmente os seus direitos e bens por causa da fé em Jesus. Eles sofreram e se sacrificaram por Cristo.
E agora eles estavam arriscando tudo que eles tinham desistido no passado e se voltando para um evangelho diferente. Se eles continuassem neste curso, abraçando essas falsas doutrinas, o sofrimento deles teria sido em vão, ou absolutamente sem valor.
Nossos sacrifícios e sofrimentos não precisam ser em vão. Paulo diz: “Todos os que almejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Timóteo 3:12). E Jesus diz: “E, por causa do meu Nome, sereis odiados de todos. Contudo, aquele que permanecer firme até o fim será salvo.” (Mateus 10:22). Se ainda não sofremos por nossa fé ainda, nós iremos. E nós provavelmente temos desistido mais do que imaginamos – não se entregando ao pecado, não retornando mal com o mal, mas entregando nossas vidas pelos outros. Não deixe que tudo isso vá para o lixo, trocando a graça por algo que você fez.
Jesus descreve a fé com uma imagem: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido num campo, que certo homem acha e esconde de novo. Fica tão feliz, que vende tudo o que tem, e depois volta, e compra o campo.” (Mateus 13:44). O investimento que fizemos no evangelho deveria causar em nós um constante estudo, reavaliação e aperfeiçoamento do nosso conhecimento sobre o evangelho. Nós deveríamos desejar dar, servir, discipular, orar e esperar, conforme O único verdadeiro evangelho, para que então nosso trabalho e sacrifício não sejam em vão.
Se nós nos alinharmos com outro evangelho (mesmo sutilmente diferente), toda nossa esperança e esforço vai nos render nada de valor duradouro.
Este artigo foi publicado originalmente no DesiringGod (para ler o original, clique aqui). A tradução é de Lucas Salgado, realizada com autorização prévia do site acima citado.
By Marshall Segal. ©2016 DesiringGod Foundation.
Marshall Segal (@marshallsegal) é um escritor e gerente de edição do DesiringGod.org. Ele é o autor de Not Yet Married: The Pursuit of Joy in Singleness & Dating (2017). Ele se formou no Bethlehem College & Seminary. Ele e sua esposa Faye tem um filho e moram em Minneapolis.